quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Resenha - A Montanha dos Sete Abutres

Apesar de ser de 1951, A Montanha dos Sete Abutres, dirigido por Billy Wilder é um filme que até hoje se mantém atual. O clássico do cinema americano nos faz repensar questões como a ética e a moral jornalística. Estrelado por Kirk Douglas no papel do inescrupuloso jornalista Charles Tatum, o filme retrata como a irresponsabilidade da imprensa pode chegar ao ponto de destruir a vida de uma pessoa.

Tatum é um experiente profissional que já passou por diversos grandes jornais mas devido sua conduta foi despedido de todos eles. Sem dinheiro, ele consegue emprego em um pequeno jornal de uma cidadezinha do Novo México. Sua intenção é trabalhar ali por no máximo dois meses e esperar por um grande acontecimento para que possa retornar à elite da imprensa americana. No entanto, após um ano nada interessante que rendesse uma boa matéria aconteceu.

Frustrado e sem motivação com o trabalho, Charles é escalado para cobrir uma corrida de cascáveis em uma cidade vizinha. Na volta da viagem encontra uma matéria que finalmente pode levá-lo novamente aos grandes jornais. Leo Minosa, homem simples, dono de um posto de gasolina, fica preso em velhas ruínas indígenas, na Montanha dos Sete Abutres. E então, vira presa fácil para o ambicioso jornalista fazer de seu resgate um verdadeiro “circo”, chamando a atenção de milhares de curiosos e da imprensa.

Tatum usa o fato da maneira que melhor o convém: manipula a mulher de Leo a não abandonar o marido soterrado e convence a autoridade local a ajudá-lo em sua farsa e ter acesso exclusivo às ruínas. O jornalista ainda consegue retardar em uma semana o tempo do salvamento, que poderia ser feito em menos de 24 horas. Tudo isso para prolongar ao máximo o “show”.

De forma mesquinha e irresponsável, Charles manipula as informações e distorce os fatos, se preocupando apenas com a autopromoção. Os fatos são manipulados para se tornarem mais atraentes para a população, que por sua vez estão preocupados somente em consumir e não questionam a veracidade. O que era absurdo e chocante, hoje é encarado com naturalidade e é até aceitável.

O que mais chama a atenção no filme é que na história não há inocentes. Todos colaboram de alguma forma para o “espetáculo” que foi montado em volta da tragédia. A corrupção do xerife, que se submete à Tatum em troca de favores políticos, a ganância da esposa de Leo, que vê na situação do marido uma maneira de lucrar com seu restaurante, e a covardia do engenheiro que reduz a velocidade do resgate, retratam um enredo de oportunismo, uma trama de interesses. Até mesmo Herbie, o jovem repórter que acompanha Tatum, deixa de lado seus princípios, encantado com a possibilidade de obter fama.

Portanto, a crítica de Wilder não é apenas à imprensa marrom, mas ao ser humano em geral. O filme é um ótimo exemplo de como as pessoas são levadas a reagir frente a situações de sensacionalismo ou de grande comoção, quando essas são freqüentemente “bombardeadas” pela mídia. Conforme a notícia ganhava mais notoriedade, mais as pessoas se aglomeravam ao redor da montanha a espera do desfecho da história.

E o fim é triste. Quando está próximo a ser salvo, Leo Minosa não resiste e morre de pneumonia. Tatum cai em si e tem um surto de remorso. Após anunciar ao público a morte do homem, o jornalista desiste de escrever a matéria que o consagraria e oferece gratuitamente os seus serviços ao antigo chefe.

Enfim, a atuação desumana de Tatum mostrada no filme já se tornou comum. São vários os casos em que seus protagonistas tiveram suas vidas arruinadas após serem massacrados pela imprensa.

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