sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Projetos combatem trabalho infantil no ABC


Na região do ABC 1.173 crianças vítimas de exploração de trabalho são contempladas pelo Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) do governo federal. O projeto possui várias frentes de combate, que vão desde a concessão de bolsa auxilio, no valor de R$40 por cada criança ou adolescente que estiver nesta condição, até ações sócio-educativas com as famílias e fiscalização de locais empregadores.

Para a conselheira tutelar de São Bernardo do Campo, Vera Gallo, a globalização mundial tem agravado a questão do trabalho infantil. “Em um mundo neoliberal onde o Estado se desresponsabiliza cada vez mais da proteção social a seus cidadãos, os excluídos dos meios de produção vão se tornando cada vez mais vulneráveis e dependendo cada vez mais da venda da força de trabalho de cada um dos membros da família, sejam eles crianças, adolescentes, adultos ou idosos”.

Para Vera o desafio é garantir justiça social. “Uma vez melhorada a distribuição de renda em um país capitalista, as famílias poderão se organizar de forma a garantir que suas crianças cumpram seu papel social: estudar e brincar”.

O trabalho infantil é caracterizado como a exploração da mão de obra de pessoas abaixo da idade mínima legal permitida para o trabalho, conforme a legislação do país. No Brasil, desde 1998 a Constituição proíbe qualquer tipo de trabalho à criança e ao adolescente menor que 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.

Os meninos e meninas que vivem em situação de rua são os que mais sofrem com as violações dos direitos. “A maioria delas passa o dia e volta para as suas casas e outros, em número menor, efetivamente moram nas ruas. Essas crianças estão expostas às mais cruéis formas de trabalho infantil: tráfico de drogas, exploração sexual; ato infracional. Essa é uma realidade do ABC que temos que enfrentar com políticas integradas”, afirmou Ariel de Castro Alves, presidente da Fundação Criança de São Bernardo.

A Fundação Criança é uma instituição que visa a garantia dos direitos da infância e da juventude. Ela atende diariamente cerca de 3000 crianças e adolescentes em situação de risco ou vulnerabilidade social e suas famílias.

Outra organização que promove a cidadania de crianças e adolescentes em situação de exclusão é o PMMR (Projeto Meninos e Meninas de Rua). As atividades do Projeto baseiam-se e desenvolvem-se a partir de duas áreas fundamentais: o atendimento às crianças e adolescentes em situação de rua e a organização e intervenção nas políticas públicas para a infância e juventude.

Para a coordenadora do PMMR da sede de São Bernardo, Néia Bueno Marianno essa forma de organização tem proporcionado ao Projeto bastante êxito na busca de seus objetivos: “A médio e longo prazo, é possível que meninos e meninas assumam projetos de vida e de auto-suficiência que possibilitem a mudança de suas ‘condições de rua’ e os estimulem a lutar pela conquista de seus direitos de cidadãos”.


Denúncias ajudam a enfrentar o problema

A participação da população pode contribuir para identificar o trabalho infantil na cidade. “O combate e a erradicação, pela sua complexidade, requer a mobilização de diferentes atores sociais, sejam eles governamentais e não-governamentais, que devem agregar esforços pelo reconhecimento da criança e do adolescente como cidadãos de direito”, afirmou Rosemary Ferreira de Souza Pereira, assistente social e consultora na área de infância, adolescência e políticas sociais.

Um importante instrumento no combate ao trabalho infantil é o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que em 2010 completou 20 anos. Para Dagmar Silva Pinto de Castro, psicóloga e coordenadora do curso de Gestão de Políticas Públicas Integradas para a Infância e Adolescência da Universidade Metodista, o marco legal instituiu novo parâmetro no trato infanto-juvenil. “Da situação irregular as crianças e adolescentes passaram a ser sujeitos de direito. Isso muda radicalmente a concepção do que é infância e adolescência, o que irá desdobrar-se na construção de uma nova cultura cidadã”, disse.

Há muito ainda por fazer, mas avanços significativos já foram obtidos. “O ECA dá visibilidade as situações de violação dos direitos das crianças e adolescentes. Assim, hoje há instrumentos legais que podem ser acionados na violação dos direitos das crianças e adolescentes”, ressaltou Dagmar.

A assistente social Rosemary Pereira afirma que ações sócio-educativas também são importantes para garantir os direitos da criança e adolescente. “A ampliação do acesso à educação infantil, uma adequada jornada escolar, o apoio a iniciativas que reduzam as distâncias entre a escola e a residência e a implementação de serviços culturais com o objetivo de proteger, socializar e fortalecer os vínculos familiares e comunitários são algumas medidas que contribuem para a solução do problema”. 

É importante destacar ainda que o trabalho precoce afeta a formação e o desenvolvimento físico e mental. “O lugar da criança é na família, na escola e na comunidade. Esse período da vida requer o aconchego da casa como lugar seguro para se habitar. São necessários espaços para que a criança se desenvolva em todos os aspectos. A situação da exploração do trabalho infantil tira da o direito de ser criança”.

Um comentário:

  1. Boa tarde.
    É um absurdo que em épocas como da nanometria e tecnologia que vivenciamos o ser humano ainda seja tão atrazado moralmente.
    Parabéns pelo trabalho.Precisamos continuar lutando e denunciando atos como a exploração infantil.Um abraço fraterno.Semíramis

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